Monday, November 19, 2007

Delírios

Acordei com o sol batendo no meu rosto, estava um dia quente. Procurei uma fonte para tirar o sono e me refrescar um pouco. Deixei a sombra após ter me saciado e sai correndo pelas pedras sem propósito, apenas pelo prazer de sentir algo novo percorrer minhas veias. Até que encontrei no caminho um pequeno bote e um imenso lago.

Ah! Se você soubesse como foi quando me deparei com aquela natureza magnífica fixada diante de mim! Senti-me tão pequena e logo imaginei como daria de bom grado a minha essência humana para despedaçar as nuvens com aquele vento tempestuoso e poder conter as águas.

Ancorei meu recém-descoberto bote de madeira na areia e preferi percorrer o caminho a pé para saborear conforme meu coração, cada lembrança de maneira nova e viva. Era tão bom sentir aquela suave brisa deslizando em meu corpo. Somente ela poderia enlevar meu pobre coração e desvendar toda a natureza disposta ao meu redor.

Não sei bem onde fui parar em meu desvario, quando me dei conta já estava febrilmente vagando entre as montanhas, onde cada flor parecia sorrir. Então resolvi colhê-las uma a uma e fazer um lindo buquê para jogá-lo das alturas ao precipício e vê-las despedindo-se de mim. Era tão bom correr e girar ao sabor do vento, mas algo interrompeu meu sublime percurso.

Era um espelho abandonado na grama todo embaçado pelo orvalho da manhã. Apoiei-o em uma árvore e rindo da cena refletida, fiz algumas trancinhas no meu cabelo. Mas não sei por que, resolvi enterrá-lo. Minhas unhas ficaram cheias de terra. Limpei minhas mãos em meu vestido branco de algodão e então resolvi deitar-me um pouco lá perto das pedras.

Uma dorzinha me afligiu, acordei e vi uma carreira de formigas na minha perna. Nada que uns tapinhas não resolvessem. Olhei lá do alto o lago sereno e sério, juntei algumas pedrinhas lisas e joguei-as uma a uma para quebrar o marasmo.

Seria um deleite sujeitar-me aos caprichos do Céu. Mas era preciso voltar para casa. Nem consegui dar a devida atenção ao meu amigo pôr-do-sol, pensava apenas nas broncas e ralhadas da mamãe. Com pressa voltei ao lago e avistei meu botezinho são ao longe. Imensa sorte foi vê-lo, como se me aguardasse. Não me contive e fui nadando até ele enquanto o ar escurecia.

Temerosa corri como nunca, caí e me machuquei centenas de vezes. Graças a Deus avistei ao longe a minha casa! E pensar que ontem eu havia prometido voltar, mas acabei dormindo debaixo de uma amoreira...

Hoje, em vez de regressar pela manhã – passei o dia tratando meu coraçãozinho como uma criança doente, permitindo-lhe todas as vontades. Ah! Se arrependimento matasse, quando cheguei em casa, minha mãe me deu uma surra bem dada e até agora eu não consigo parar de chorar.

Estou tão machucada... Que saudade de ontem!

(Monique Antunes.)

5 Comments:

Blogger Ana Nogueira Fernandes said...

Bom demais, mas queria poder ler as entrelinhas desse texto.

2:26 am  
Anonymous Anonymous said...

Uau! Mto bom!
Tenho impressão de q já li esse texto em algum lugar... Mas minha memória é fraca, não vou lembrar.

Beijos!

Ah, eu dei uma olhada rápida no site que vc disse! ÓTIMO!

9:14 am  
Blogger Ana Nogueira Fernandes said...

Lembra o mundo se sofia.. o bote, o espelho, lugar bonito...
Será que a Malu já leu mundo se sofia?

9:22 pm  
Anonymous Anonymous said...

Esse blog é uma maravilhosa viagem, Cosmic Girl! Também li Sidarta, e nos meus 20 anos. Herman Hesse... E também descobri o grande pensador Schopenhauer naquele tempo! "O mundo como vontade e representação". UAU! Vou te linkar pra voltar aqui e ver/ouvir os vídeos desta página, OK? E passa lá na redação, talvez você se divirta um pouco. Será bem-vida! Bjuuusss!!!

4:41 am  
Anonymous Anonymous said...

Li alguma coisa parecida, então. Como disse, minha memória é fraca!
=)

Beijo

8:40 am  

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