Thursday, June 14, 2007

O Perigo de Ser Inteligente

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas.

O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: “Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta".

Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava em uma carreira difícil. Isso, na Inglaterra. Imaginem aqui, no Brasil.

Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa: “Há tantos burros mandando em homens de inteligência,que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma Ciência”.

A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência.

Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder.

Mas, é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.

Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.

Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social.

Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota, automaticamente, a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas. Enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. É um paradoxo angustiante!

Infelizmente, temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.

É como diz o velho e sábio conselho de Nelson Rodrigues: "Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra”.

4 Comments:

Blogger Mary Jane said...

você NÃO tem 19 anos.
ou só seu corpo físico que tem.

beijos

3:49 pm  
Blogger Ana Nogueira Fernandes said...

Esse é o tipo de coisa que a gente só aprende de verdade quando quebra a cara.
realmente, uma das lições mais difíceis da vida.
a dissimulação é uma arte.

7:04 pm  
Anonymous Anonymous said...

Gostei da série "anti-inveja".

Há virtude em "sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes", pois os resultados que nos medem.

Não existe o ditado sobre boas intenções e o inferno?

Agora, a inteligência se demonstra entendendo onde se está, sabendo quais são sas possibilidades e planejando o futuro, bem como as ações necessárias.

Nenhuma muralha é indestrutivel, e mesmo que seja, ainda poderá ser utilizada para nos proteger, basta acessá-la ou conquistá-la.

Eu ja disse que gosto de seus textos, citações e seleções?

4:52 pm  
Blogger Andre Viegas said...

Eu já havia colocado esse texto no WL faz quase 1 ano. Engraçado como as coisas (e a vida) sempre dá uma volta e te traz para a mesma situação de outrora. Well...

9:43 am  

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