Miss Simpatia
Sempre me esforcei para ser legal com todo mundo, bastava sentar uma pessoa ao meu lado para que eu fizesse algum comentário ou até mesmo puxasse uma conversa (caso eu sentisse alguma receptividade, é claro). Mostrava interesse por todos e me esforçava para compreendê-los. A apatia das pessoas não me incomodava, até que comecei a sentir o sabor do desprezo.
Ao longo do tempo percebi que as pessoas me interpretavam mal, pensavam que eu tinha algum interesse ou intenção por trás de tanta bondade. Mostravam-se receosas como se eu fosse uma pessoa dissimulada. Era um bom dia não respondido, uma pergunta ignorada, um sorriso não retribuído. Não existia reciprocidade.
Cresci, e quanto mais crescia, mais meu mundinho cor-de-rosa ia desabando. Mas sabe, foi bom dar com a cara no poste e me arrebentar. Tô inteirinha num tô? Pois é, não sou mais tão ingênua e tapadinha como eu era. Aprendi tanta coisa e a principal foi não esperar nada de ninguém, não criar expectativas.
Mas ainda assim eu tinha muito medo de continuar a me decepcionar, então adotei inevitavelmente uma postura fechada e defensiva. Eu era triste e melancólica. Ficava sozinha lendo, desenhando ou escrevendo. Evitava contatos e envolvimento, tinha fobia das pessoas. É claro que eu tinha motivos para agir assim, bons motivos aliás.
Até um animal quando é ferido recua e foge, não é mesmo?
E eu reforçava minha atitude dizendo que até Jesus havia sido traído pelo seu amigo Judas. Ficava sempre cabreira e com os três pés atrás quando alguém se aproximava. Mas como eu vivo sempre me auto-analisando, percebi que se eu fosse ser atenciosa apenas com quem eu julgasse merecer minha atenção, não sobraria quase ninguém – exceto minha família.
No começo me apeguei à idosos, crianças e bichanos. Mas a minha realidade me obrigava a conviver com outro perfil e faixa etária. O ego inflado, o orgulho e a vaidade deles me incomodavam mais que qualquer pedrinha no sapato, muito mais que qualquer cisquinho no olho.
Foi difícil me acostumar. E eu ficava realmente irritada de ver como as pessoas cobravam de mim algo que elas não eram. Queria morrer quando alguém deformava as coisas que eu falava - detestava aquela audição seletiva, que filtra apenas o que interessa. Ficava extremamente abalada com as inúmeras pessoas que num dia me abriam um lindo sorriso e no outro desviavam até de caminho.
A arte da convivência não me permitia ser quem eu gostaria com todos. Porém eu me feria ainda mais recorrendo ao afastamento - que apenas reforçava minhas mágoas e rancores. Não dava mais para fugir da dor e recorrer a escapismos. A solução foi enfrentar a situação e para suportá-la, usar armaduras psicológicas e muita estratégia.
As pessoas querem mudar os outros, mas não querem mudar a si mesmas. Retribuem desprezo com desprezo, egoísmo com egoísmo. Parecem criancinhas do jardim da infância e estão sempre se julgando, se acusando, se apontando. Agir como elas agem é muito fácil e instintivo. Colocar o ego na frente de tudo é prático e cômodo demais.
Em vez de construir barreiras,
resolvi amenizar todos os focos de tensão.
(Afinal, uma hora a pessoa que me desprezou a sangue frio vai precisar de mim. E quando esta hora chegar, eu vou ajudá-la).
Se você que me apunhalou pelas costas precisar de uma mão, eu estenderei a minha. Não sou uma boa samaritana, não saio por aí abraçando ninguém. Não te acolherei de maneira profunda e amável, mas de maneira gentil.
As pessoas vivem em clima de Guerra Fria, mas elas precisam umas das outras. E quem ainda prefere pagar com a mesma moeda só reforçará o rancor de ambas as partes.
Aprendi a surpreender as pessoas e despertar nelas o sentimento mais bonito. Desarmo o seu ódio com o meu sorriso e a sua vingança com sinceras desculpas (por mais que eu esteja certa).
Eu não sou doce nem chocolate. Mas respeito, educação e gentileza eu não nego a ninguém. Pode ser o ser mais escroto do mundo.
9 Comments:
nossa, monique!
quanta mágoa!
pára com isso, menina.
lembre-se que só os que realmente merecem ficam. por isso, é bom ser legal (ou seja, ser você mesma) com todo mundo.
àqueles que te traem, que te magoam, diga um sonoro palavrão e risque pra sempre da sua agenda de amigos.
até porque, agenda de amigos, amigos mesmo, é pequena. bem pequena.
beijos, linda.
Hahaaa!!!!! ADOREI ESTE TEXTO!!!
Monique, esses dias eu disse pra uma colega minha da facu, que é minha parceira pro que der e vier:"tô tão acostumada com hostilidades que, quando uma pessoa é gentil comigo, eu fico extremamente surpresa!"
Antes eu me colocava como vítima das hostilidades alheias.
Meu 1º ano na faculdade foi mto complicado, pq eu sou uma pessoa sociável, sorridente, dou risada alto e puxo conversa com facilidade... e as pessoas pensam exatamente isso que vc disse: geralmente parece que somos tidas como dissimuladas e interesseiras!
E então, parece que qto mais a gente procura ser uma pessoa agradável, mas somos punidas por isso!
E eu tenho aprendido mto com essas situações. Hj estou vacinada e digo que não sou nenhum chocolatezinho, tampouco uma pimenta malagueta. Prefiro dizer que sou Agridoce. Sou o chocolate e a pimenta juntas.
Não sou uma pessoa hipócrita, rancorosa, nem antipática. Mas tbm não sou aquela moça boazinha que aguenta todo e qualquer esporro com a maior ingenuidade do mundo. Procuro me colocar sempre no meu lugar e tbm no lugar do outro: será que Eu gostaria de ser tratada assim?
E acredito piamente que a gente colhe aquilo que a gente planta. Então, não sou do tipo "olho por olho" nem "dente por dente". Tenho procurado sim, vencer o mal com o bem, vencer o ódio e o rancor com a gentileza, com a cumplicidade.
Enfim, somos seres sociais e históricos... temos aquela necessidade de nos sentir aceitos e enturmados em algum grupo. E, para isso, mtas vezes precisamos renunciar um pouco de nós pra que o outro tbm tenha o seu espaço. E é aí que certos desentendimentos geralmente acontecem. Mtos só querem cobrar, apontar os defeitos do outro. É o velho ditado: "o sujo falando do mal lavado".
Antes eu acreditava que o ser humano era uma boa pessoa [rsrs], mas não é bem assim. Nós somos egoístas, individualistas, "aparícios", competitivos.... Nossa natureza humana é baixa e corrompida. Mas, tbm temos nossas virtudes, ainda que poucas. Ufa!! Rs!
Tenho tentado exercitar a gentileza, o carinho, a generosidade... e isso envolve novamente aquela renúncia, né. E renunciar é chaaato, mas, qdo fazemos isso, algo de mto maravilhoso começa a acontecer dentro de nós :)
É tremendo qdo uma pessoa vem cheia de amargura pra cima de vc, e vc devolve a ela gentileza, compreensão e disponibilidade de alma. Isso desarma o mais duro coração!
Não precisamos ser Miss simpatia 24 horas, até porque, ser assim enjoa, né?! :p
Assim tbm como ser uma pessoa hostil e sem sal 24h tbm enjoa... rs!
Monique, que bom que vc tem aprendido a vencer as situações chatas da vida e exercitado suas virtudes... Este texto só veio confirmar o que eu tbm já vivi e tenho aprendido! Beijos com carinho, bonitona =*************
Ah, adorei a nossa conversa aquele dia! Apesar de ter sido bem rapidex [rs!], foi mto agradável! :)
Então... até mais vezes!
http://livre-essencia.blogspot.com
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Achei muito inteligente sua tática. Você sabe muito bem como desarmar seus inimigos.
Você corta o mal pela raiz e os deixa sem munição! Amazing.
eu li até o final sim, sua doida.
mas pra você chegar às melhores conclusões precisou passar por muita coisa chata.
por isso falei dos amigos que ficam. os que são de verdade, e que se a gente soubesse desde cedo quais são, não passaria por tanta decepção.
você aprendeu muito, mas é tão novinha que fico triste em ver que já teve que encarar tanta coisa assim.
minha idéia é que a gente deve sempre olhar a vida de forma mais inocente, pura, sem malícia, sabe?
é melhor fechar os olhos pra muita coisa que nos atropela de vez em quando.
pelo menos é o que eu faço.
se desse importância pra tanta merda que tem no mundo, sinceramente, não estaria mais aqui.
um beijo. aliás, outro.
dani
hehe.
e que bom que pelo jeito, você passou a enxergar as coisas desse jeito também.
outro.
Te achei um pouco magoada com as coisas, mas no fim acho que vc tem razão. Não conhecemos as pessoas e a princípio temos que nos proteger sim.
É a vida.
Já te linkei no meu blog.
Béééééééjuuuu
e calma
Muito interessante, principalmente pela semelhança com o que acontece comigo. Nos dois primeiros parágrafos parecia eu escrevendo.
Parei um pouco com isso justamente porque me sentia incompreendido pelos meus amigos, então acabei concluindo que era eu quem me queixava demais.
Agora, lendo tudo isso, vejo que existe, sim, em algum lugar, pessoas parecidas comigo. Por que não aparece alguém assim para ser meu amigo? Oh, dúvida cruel.
Não digo que eu adotei a tática do isolamento. Ou melhor, adotei sim, mas desisti dela um tempo depois. Passei a criar menos expectativas e exigir menos reciprocidade, guardando algumas reclamações no meu íntimo.
Não é a vida linda que eu gostaria de ter, com cumplicidade e solidificação mútua de amizades e sentimentos, mas, vá lá, continuo na caminhada.
Tenho visitado vários blogs e encontrado muitas surpresas, pessoas com conteúdo, fico realmente contente com isso.
Voltarei mais vezes.
Até mais!
"As pessoas querem mudar os outros, mas não querem mudar a si mesmas."
Eu sempre digo que ignorância é felicidade. Dentro disso distração é quase uma benção :P
Poxa, chocolate é legal.
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