Wednesday, February 28, 2007

As Pêras

As pêras, no prato,
apodrecem
O relógio sobre elas
mede a sua morte?
Paremos a pêndula. Deteríamos,
assim a morte das frutas?

Oh, as pêras cansaram-se
de suas formas e de sua doçura! As pêras
concluídas, gastam-se no fulgor de estarem
prontas para nada.

O relógio
não mede. Trabalha
no vazio: sua voz desliza
fora dos corpos.
Tudo é o cansaço
de si.

As pêras se
consomem no seu doirado
sossego. As flores, no canteiro
diário, ardem em vermelhos e azuis.
Tudo desliza e está só.

O dia comum, dia de todos,
é a distância entre as coisas.

Mas, o dia do gato, o felino
e sem palavras dia do gato que
passa entre os móveis
é passar. Não entre os móveis.
Passar como eu passo:
entre nada…

Autor: Ferreira Gullar.
*AMO este poema!!!

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